A Conquista de Canaã: O Estabelecimento do Território da Antiga Israel
O Território da Antiga Israel abrange uma região geograficamente estratégica e religiosamente central na história do Oriente Próximo. Este território é o cenário da formação da identidade nacional e espiritual do povo israelita, conforme descrito nas Escrituras Hebraicas. Ele estende-se desde o Rio Jordão ao leste, até o Mar Mediterrâneo ao oeste, do Monte Hermom ao norte, até o Deserto de Parã e Neguebe ao sul.
Um dos marcos históricos mais importantes relacionados a esse território é a conquista de Canaã pelos israelitas, liderados por Josué, sucessor de Moisés. Este evento não apenas transformou a paisagem política da região, como também solidificou a herança cultural e espiritual de Israel sobre a terra prometida por Deus a Abraão, Isaque e Jacó.
O Contexto Histórico: A Terra Prometida
Após o êxodo do Egito e 40 anos de peregrinação no deserto, os israelitas, sob a liderança de Moisés e depois de Josué, se aproximaram das margens orientais do Rio Jordão, prontos para entrar na terra que Deus prometera a seus antepassados.
Canaã, o nome dado à região, era habitada por diversas nações: cananeus, hititas, jebuseus, amorreus, perizeus e outros. Esses povos eram organizados em cidades-estado fortificadas, como Jericó, Ai, Hazor, Debir, Hebrom e Jerusalém. O ambiente era politicamente fragmentado, mas culturalmente rico, com forte influência da religiosidade politeísta.
A Campanha de Conquista sob Josué
Segundo o Livro de Josué, a conquista de Canaã foi dividida em várias campanhas militares. A narrativa, embora sagrada, é interpretada por muitos estudiosos como uma combinação de tradições históricas, memória coletiva e propaganda teológica, reforçando a ideia de que a terra era um dom divino.
1. Travessia do Jordão e Queda de Jericó
O povo atravessa milagrosamente o Rio Jordão em terra seca (Josué 3) e celebra a primeira Páscoa em Gilgal. Em seguida, acontece a emblemática queda de Jericó, a cidade fortificada cujos muros ruíram após sete dias de marchas e toques de trombeta (Josué 6). Este episódio se tornou símbolo da intervenção divina na conquista da terra.
2. Campanha Central
Após a queda de Jericó, os israelitas avançam para Ai, onde enfrentam uma derrota inicial, seguida por uma vitória estratégica (Josué 7–8). Essa campanha assegura o controle da região central da Palestina montanhosa — um eixo fundamental do território antigo de Israel.
3. Campanhas do Sul e do Norte
Josué e os israelitas combatem uma coalizão de reis amorreus no sul (Josué 10) e depois uma aliança de reis cananeus ao norte, liderados por Jabim, rei de Hazor (Josué 11). A vitória nessas batalhas consolidou o domínio israelita sobre as áreas altas de Canaã.
A Distribuição do Território entre as Doze Tribos
Após as vitórias militares, a terra foi dividida entre as doze tribos de Israel, com base em sorteios realizados em Siló (Josué 13–21). A distribuição obedeceu critérios geográficos, históricos e familiares. Eis um panorama das divisões:
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Judá: região sul, incluindo o deserto do Neguebe e as colinas ao redor de Hebrom.
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Efraim e Manassés: tribos de José, ocupando grande parte do centro e norte.
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Benjamim: território entre Judá e Efraim, incluindo Jerusalém.
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Dã: originalmente no oeste, depois migrou para o norte.
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Naftali, Aser, Zebulom e Issacar: tribos do norte, nas regiões férteis da Galileia.
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Rúben, Gade e metade de Manassés: do outro lado do Jordão, a leste.
A distribuição geográfica fortaleceu a identidade tribal, mas também estabeleceu as bases para conflitos internos e externos nas décadas seguintes.
A Resistência Cananeia e o Período dos Juízes
Apesar das conquistas iniciais, muitas cidades cananeias não foram destruídas ou subjugadas. O Livro de Juízes apresenta uma narrativa menos triunfante da ocupação, enfatizando a coexistência (e por vezes, subjugação) entre israelitas e os povos nativos.
Essa convivência gerou sincretismo religioso, opressão estrangeira e uma estrutura tribal descentralizada. Deus levantava juízes — líderes militares e carismáticos como Débora, Gideão, Jefté e Sansão — para libertar o povo de seus inimigos.
A ausência de uma liderança unificada e a fraqueza política dos israelitas levaram à fragmentação do território e à ameaça constante de povos vizinhos como os filisteus, moabitas, amonitas e midianitas.
Significado Histórico e Religioso do Território
O território da Antiga Israel tornou-se o palco da revelação divina, onde a aliança entre Deus e seu povo se desenvolveu. Essa terra representava muito mais que um espaço físico: ela era o símbolo da fidelidade de Deus e da responsabilidade do povo de viver segundo os mandamentos da Torá.
Além disso, a configuração tribal serviu de modelo para as futuras monarquias de Saul, Davi e Salomão, bem como para as tensões entre o Reino do Norte (Israel) e o Reino do Sul (Judá), após a divisão em 931 a.C.
Arqueologia e Evidências
A arqueologia moderna tem explorado amplamente o território antigo de Israel, encontrando ruínas de cidades como Hazor, Megido, Jericó, Laquis e Betel. Embora nem todos os relatos bíblicos tenham confirmação direta, há evidências de uma gradual ocupação dos montes de Canaã entre os séculos XIII e XI a.C., o que apoia a hipótese de um assentamento israelita progressivo, mais do que uma conquista total e súbita.
O Território da Antiga Israel não é apenas um espaço geográfico, mas um símbolo da identidade nacional, espiritual e histórica do povo israelita. A conquista de Canaã sob Josué, embora cheia de desafios e disputas, marcou o início de uma presença contínua e profundamente enraizada dos israelitas nessa terra, que influenciaria toda a tradição bíblica e judaico-cristã.
O mapa desse território nos permite entender melhor a lógica tribal, as estratégias militares, os desafios políticos e a importância simbólica da terra prometida — elementos que continuam a ressoar na história religiosa e política até os dias atuais.
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