A Terra de Israel e o Livro de Gênesis: A Jornada de Abraão e o Nascimento de um Povo
O Livro de Gênesis, o primeiro livro da Bíblia hebraica e do Antigo Testamento cristão, é fundamental não apenas para as tradições religiosas judaica, cristã e islâmica, mas também para a compreensão histórica da relação entre um povo — os israelitas — e uma terra específica: a Terra de Israel. Um dos acontecimentos mais significativos narrados no Gênesis é a chamada de Abraão (então chamado Abrão), considerado o patriarca fundador da fé monoteísta. Essa narrativa é crucial para entender a ligação espiritual e territorial entre os descendentes de Abraão e a Terra de Israel.
O Chamado de Abraão: Uma Jornada Geográfica e Espiritual
Em Gênesis 12, Deus chama Abrão para deixar sua terra natal, Ur dos Caldeus (na Mesopotâmia, atual sul do Iraque), e seguir para uma terra que Deus lhe mostraria:
"Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, e vai para a terra que eu te mostrarei." (Gênesis 12:1)
A jornada de Abraão é, portanto, uma migração sem mapa definido, guiada apenas pela fé. Ele atravessa grande parte do Crescente Fértil — uma região fértil em forma de arco que abrange Mesopotâmia, Síria, Canaã (atual Israel/Palestina) e o delta do Nilo.
Abraão passa por Haran (norte da Mesopotâmia), desce para a região de Canaã (atual Terra de Israel), e se estabelece primeiramente em Siquém (atualmente Nablus), depois em Betel e Hebrom. Esses locais não são apenas nomes bíblicos, mas também sítios arqueológicos e históricos reais situados dentro da atual geografia de Israel e da Cisjordânia.
A Promessa da Terra: Dimensões Teológicas e Históricas
Em várias passagens, Deus promete a Abraão que sua descendência herdará a terra de Canaã:
"A tua descendência darei esta terra." (Gênesis 12:7)
Essa promessa é repetida e expandida em Gênesis 15 e 17, e inclui uma aliança perpétua. A Terra é descrita com limites que vão "do rio do Egito até o grande rio, o Eufrates" — uma descrição que sugere uma vasta extensão, mas que tem como centro a região montanhosa de Canaã, onde hoje estão Jerusalém, Hebrom, e outras cidades sagradas.
Historicamente, essa promessa se tornou o cerne da identidade israelita. Mesmo durante os exílios e dispersões — para o Egito, a Babilônia ou o Império Romano — a Terra de Israel permaneceu como o ideal espiritual e nacional do povo judeu.
A Terra no Gênesis: Locais-Chave em Israel
O Gênesis menciona diversos locais que hoje se situam na Terra de Israel e que têm grande importância tanto bíblica quanto arqueológica:
- Hebrom: onde Abraão estabeleceu residência e onde ele, Sara, Isaque, Rebeca, Jacó e Lia foram sepultados na Caverna de Macpela. Hebrom continua sendo uma cidade de relevância religiosa para judeus, muçulmanos e cristãos.
- Betel: onde Jacó teve o famoso sonho da escada para o céu. Betel (próxima à atual cidade de Beitin) era um centro de culto e teve papel importante nos reinos bíblicos de Israel.
- Siquém: o primeiro local em Canaã onde Abraão construiu um altar. Também foi onde Jacó comprou terras e onde José foi sepultado.
- Berseba: ao sul do território, é associada com os pactos entre Abraão e Abimeleque, e também com Isaque.
Esses lugares demonstram que o Gênesis já delineava, desde tempos antigos, um mapa sagrado que se sobrepõe a realidades políticas e geográficas modernas.
O Contexto Arqueológico e Histórico
A maioria dos estudiosos modernos entende que os relatos do Gênesis foram compostos ou editados muitos séculos depois dos eventos que narram, talvez no século 10 a.C. ou mais tarde. No entanto, a tradição oral que os fundamenta pode remontar ao segundo milênio a.C., época em que a movimentação de povos entre a Mesopotâmia e Canaã era comum.
Achados arqueológicos como textos cuneiformes, cartas de governadores cananeus ao faraó (como as Cartas de Amarna), e restos de cidades como Jericó, Hazor e Megido, ajudam a contextualizar os ambientes mencionados no Gênesis.
A Herança Contínua: Da Antiguidade ao Presente
A ligação entre o povo judeu e a Terra de Israel, expressa desde o Gênesis, foi reafirmada ao longo da história:
- Durante a conquista de Canaã por Josué.
- Na monarquia de Davi e Salomão.
- Após o exílio babilônico, com o retorno liderado por Esdras e Neemias.
- Na literatura rabínica e nas orações diárias, que mencionam Jerusalém e Sião.
- No sionismo moderno, que invocou a promessa bíblica para justificar o retorno à terra ancestral.
Hoje, o mapa moderno da Terra de Israel, com locais citados no Gênesis, continua a ser estudado e reverenciado, tanto por religiosos quanto por arqueólogos e historiadores.
O relato do Gênesis sobre a Terra de Israel não é apenas uma descrição antiga de movimentos tribais ou nomádicos, mas uma poderosa narrativa de identidade e promessa. A jornada de Abraão e a promessa da terra moldaram milênios de história, fé e conflito. Mesmo nos dias atuais, a geografia do Gênesis ainda ressoa no coração de muitos, revelando como um texto milenar continua a influenciar o presente.
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