O Mar Vermelho e a Travessia dos Israelitas: História, Tradição e Geografia
O Mar Vermelho está entre os locais geográficos mais emblemáticos da narrativa bíblica. Ele é tradicionalmente associado ao milagre da travessia dos israelitas durante sua fuga do Egito — um evento dramático descrito no livro do Êxodo que marca o início da liberdade do povo hebreu. Mas qual é a base histórica desse acontecimento? Onde exatamente ocorreu? E o que os mapas antigos e modernos nos revelam sobre ele?
Este artigo explora o Mar Vermelho como local de um acontecimento histórico de imenso significado religioso e cultural, com foco no episódio da travessia, as possíveis localizações, sua representação cartográfica e as perspectivas arqueológicas e acadêmicas sobre o tema.
O Evento Bíblico: A Travessia do Mar
De acordo com Êxodo 14, após libertar os israelitas da escravidão, o faraó do Egito muda de ideia e persegue o povo até alcançá-los às margens do “Mar Vermelho” (em hebraico, יַם-סוּף – Yam Suf, literalmente “Mar de Juncos”).
Moisés, sob orientação divina, estende seu cajado, e o mar se abre, permitindo a passagem dos israelitas em terra seca. Quando os egípcios tentam seguir, as águas retornam, afogando o exército de faraó.
Este evento é considerado o ponto de virada da libertação israelita e é relembrado ritualmente até hoje no judaísmo, especialmente durante o festival da Páscoa (Pessach).
A Localização do "Mar Vermelho" – Yam Suf
Embora o termo “Mar Vermelho” seja tradicionalmente usado, a tradução mais precisa do hebraico “Yam Suf” seria “Mar de Juncos”. Isso gerou intensos debates sobre a real localização da travessia.
Possíveis Locais
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Lagos e zonas pantanosas do Delta oriental (Norte do Egito)
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Alguns estudiosos sugerem que a travessia ocorreu em áreas como o Lago Timsah ou os Lagos Amargos (Great Bitter Lake).
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Essa teoria combina bem com a ideia de “juncos” e explica como a travessia foi possível por meio de causas naturais, como ventos fortes e marés baixas.
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Golfo de Suez (ramo ocidental do Mar Vermelho)
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Proposta tradicional, favorecida por muitos mapas bíblicos e por leitores antigos da Septuaginta.
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Associada à ideia de um mar real e profundo que teria se aberto miraculosamente.
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Golfo de Ácaba (ramo oriental do Mar Vermelho)
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Defendida por pesquisadores como Ron Wyatt, que propõem que o monte Sinai estaria na atual Arábia Saudita.
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Essa rota inclui a travessia em uma área mais distante, próxima a Nuweiba, com base em certas formações geológicas submersas.
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Cada uma dessas teorias é representada em mapas históricos, e as diferentes rotas do Êxodo tentam traçar o caminho dos israelitas com base em menções bíblicas como Pi-Hairote, Migdol e Baal-Zefom.
Representações Cartográficas
Mapas antigos, desde a Antiguidade até a Idade Média, muitas vezes tomavam o Mar Vermelho literalmente, como o local onde Moisés abriu as águas. A cartografia cristã medieval frequentemente apresentava o evento de forma simbólica e teológica, conectando-o à salvação e ao batismo.
Com o Renascimento e o avanço da geografia científica, mapas bíblicos começaram a diferenciar entre o Mar Vermelho (como o conhecemos hoje) e possíveis áreas pantanosas ou litorâneas mais próximas do Delta do Nilo.
Hoje, mapas modernos sobre o Êxodo apresentam diferentes rotas possíveis, destacando:
- O local da partida (Pi-Ramsés),
- O caminho pelo deserto (Etã, Mara, Elim),
- A travessia do mar,
- O destino final no Monte Sinai (ou Horebe).
Arqueologia e o Debate Histórico
Até o momento, não há evidência arqueológica definitiva da travessia do Mar Vermelho. No entanto, muitos estudiosos consideram que o relato pode estar baseado em eventos reais, possivelmente reinterpretados ao longo do tempo como um milagre divino.
Algumas propostas:
- Eventos naturais raros como tsunamis, terremotos ou ventos fortes poderiam ter causado um recuo temporário das águas.
- Registros egípcios não mencionam diretamente o Êxodo, mas há documentos que mostram instabilidade, revoltas de servos semitas e desastres naturais que coincidem com o período atribuído ao Êxodo (séculos XV a XIII a.C.).
- A ausência de registros egípcios pode ser explicada pela prática de omitir derrotas ou eventos desonrosos nos anais oficiais.
O Mar Vermelho na Tradição Religiosa
Judaísmo
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A travessia do Mar Vermelho é vista como um milagre central na libertação de Israel e é mencionada nas orações diárias e no Haggadah da Páscoa.
Cristianismo
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O evento é interpretado como prefiguração do batismo e da salvação, sendo citado por Paulo em 1 Coríntios 10.
Islamismo
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O Alcorão também menciona a travessia e a destruição do exército do faraó (Sura 26:60–67), com Moisés (Musa) como um profeta e libertador.
Importância Geopolítica do Mar Vermelho
Além do seu significado bíblico, o Mar Vermelho tem sido historicamente uma rota vital para o comércio e as conexões entre África, Oriente Médio e Ásia. Na Antiguidade:
- Era utilizado por egípcios para expedições ao sul (Punt),
- Os nabateus e romanos estabeleceram rotas comerciais marítimas ligando o Mar Vermelho à Índia,
- No período bíblico, reis como Salomão mantinham frotas em Ezion-Geber (próximo ao Golfo de Ácaba).
O “Mar Vermelho”, como apresentado nos mapas bíblicos e nos relatos do Êxodo, transcende sua função geográfica. Ele se tornou símbolo da libertação, da intervenção divina e da renovação da identidade de um povo. Seja como mar literal ou como imagem teológica, o Yam Suf permanece uma poderosa lembrança do clamor dos oprimidos e da resposta do sagrado.
A travessia do Mar Vermelho continua sendo estudada, debatida e reverenciada — um ponto de encontro entre fé, história e geografia que ainda fascina crentes e estudiosos.
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