Divisões do Reino de Herodes

As Divisões do Reino de Herodes: Fragmentação, Tetrarquias e o Contexto do Novo Testamento

O mapa “Divisões do Reino de Herodes” remete a um dos períodos mais significativos da transição política na Palestina sob o domínio romano: a divisão do vasto reino de Herodes, o Grande, após sua morte em 4 a.C. Herodes havia sido nomeado “rei dos judeus” por Roma e governava com mão de ferro sobre uma região que incluía a Judeia, Samaria, Galileia, Perea e outras áreas. No entanto, com sua morte, Roma interveio para dividir seu reino entre seus filhos, resultando em uma configuração política frágil e cheia de tensões.

Este artigo explora o contexto histórico da divisão, os governantes que herdaram as partes do reino, os efeitos sobre a população judaica, e como essa configuração ajudou a moldar o pano de fundo político e social dos evangelhos.

O Reino de Herodes, o Grande (37–4 a.C.)

Herodes, o Grande, foi nomeado rei da Judeia pelo Senado Romano em 40 a.C., com apoio de Marco Antônio e Otaviano (futuro imperador Augusto). Após consolidar seu poder com a ajuda de forças romanas, Herodes governou como vassalo de Roma e empreendeu grandes projetos de construção, incluindo o Templo de Jerusalém, fortalezas como Massada e Heródio, e cidades helenizadas como Cesareia Marítima.

Apesar de seus feitos arquitetônicos, Herodes era amplamente odiado pelos judeus por seu governo brutal, alianças com Roma e perseguições internas, incluindo a execução de membros de sua própria família. Ao se aproximar da morte, Herodes alterou diversas vezes seu testamento, causando incerteza sobre sua sucessão.

A Morte de Herodes e a Intervenção Romana

Herodes morreu em Jericó no ano 4 a.C. e deixou um testamento final que dividia seu reino entre três de seus filhos: Arquelau, Herodes Antipas e Filipe. No entanto, a divisão precisava da aprovação do imperador Augusto. Uma delegação de judeus foi a Roma para protestar contra a nomeação de Arquelau, acusando-o de tirania precoce. Augusto, após ouvir as partes, manteve o arranjo geral, mas com títulos diferentes do de “rei”.

Assim, o reino de Herodes foi dividido em tetrarquias e etnarquias — não mais um reino unificado, mas uma estrutura fragmentada sob supervisão romana.

As Divisões do Reino: Tetrarquias e Etnarquias

1. Herodes Arquelau – Etnarca da Judeia, Samaria e Idumeia

Arquelau recebeu a parte central e mais importante do reino, incluindo:

  • Judeia (com Jerusalém),
  • Samaria,
  • Idumeia.

Ele foi nomeado etnarca, um título inferior ao de rei, com a promessa de que receberia o título real se mostrasse competência. No entanto, seu governo foi desastroso. Cruel e impopular, enfrentou revoltas frequentes. Após uma série de queixas por parte dos judeus e samaritanos, Augusto depôs Arquelau em 6 d.C., banindo-o para a Gália.

A Judeia passou então ao controle direto de Roma, tornando-se uma província governada por procuradores — entre eles, o mais conhecido é Pôncio Pilatos (26–36 d.C.).

2. Herodes Antipas – Tetrarca da Galileia e Perea

Herodes Antipas governou:

  • A Galileia (região ao norte, com cidades como Nazaré e Cafarnaum),
  • Perea (além do Jordão, frente à Samaria).

Foi chamado de tetrarca e não rei. Apesar disso, ele governou por 43 anos (4 a.C. a 39 d.C.) com relativa estabilidade. É mencionado nos Evangelhos como quem mandou executar João Batista e também como aquele para quem Jesus foi enviado por Pilatos (Lucas 23:7–12).

Herodes Antipas fundou a cidade de Tiberíades, que se tornou capital da Galileia e um centro helenístico importante.

3. Filipe – Tetrarca das Regiões do Norte e Leste

Filipe governou territórios mais afastados e menos populosos:

  • Itureia,
  • Traconites,
  • Gaulanites,
  • Batanéia (correspondente à região de Basã),
  • Auranites.

Essas áreas ficam a nordeste do mar da Galileia e além do Jordão. Filipe foi considerado um governante justo e construiu cidades como Cesareia de Filipe (perto do monte Hermom), mencionada nos Evangelhos como local da confissão de Pedro (Mateus 16:13–20).

Consequências Históricas e Religiosas

Romanização da Judeia

Com a deposição de Arquelau, a Judeia passou a ser governada diretamente por Roma, por meio de prefeitos e procuradores. Isso aumentou a tensão entre os judeus e o poder romano, culminando décadas depois na Grande Revolta Judaica (66–73 d.C.).

Fragmentação e Tensão Étnica

A divisão do reino exacerbou rivalidades regionais. Judeus da Judeia desprezavam os da Galileia, e os samaritanos tinham uma relação ainda mais tensa com os dois. Esses conflitos internos fornecem o pano de fundo para muitas histórias nos Evangelhos, como a parábola do bom samaritano e a rejeição de Jesus por algumas autoridades judaicas.

Contexto do Ministério de Jesus

Jesus nasceu sob o governo de Herodes, o Grande (Mateus 2), e cresceu sob o domínio de Herodes Antipas. Os Evangelhos mostram interações com as diferentes autoridades:

  • Ele foi julgado por Pilatos (procurador romano),
  • Enviado a Herodes Antipas (tetrarca da Galileia),
  • Realizou seu ministério entre as regiões de Antipas e Filipe.

Essa estrutura fragmentada influenciou suas rotas de viagem, os encontros com gentios e o cenário de sua crucificação.

O mapa “Divisões do Reino de Herodes” representa mais do que fronteiras políticas — ele traça os contornos de uma Palestina fragmentada sob o domínio romano, onde tetrarcas e procuradores administravam com interesses próprios e onde fermentavam as tensões que levariam à queda de Jerusalém no ano 70 d.C.

A divisão do reino após a morte de Herodes ilustra como decisões imperiais moldaram o cenário dos Evangelhos, impactando profundamente a vida de figuras como João Batista, Jesus de Nazaré e os apóstolos. Compreender esse contexto é fundamental para interpretar o Novo Testamento e entender os complexos jogos de poder, religião e cultura no mundo do primeiro século.


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