Israel sob Roboão: A Divisão do Reino Unido e o Nascimento de Judá e Israel
I. Um Reino à Beira da Fratura
O mapa intitulado “Israel sob Roboão” representa o período imediatamente posterior à morte do rei Salomão (c. 930 a.C.), filho de Davi. Ao observar esse mapa, somos confrontados com as tensões entre as doze tribos de Israel — que, durante os reinados de Saul, Davi e Salomão, haviam formado um único reino — mas que agora caminham para uma divisão política irreversível.
Esse momento histórico é profundamente simbólico: marca o fim do Reino Unido de Israel e dá início a duas entidades rivais e separadas:
- O Reino do Sul, governado por Roboão, filho de Salomão, com capital em Jerusalém.
- O Reino do Norte, liderado por Jeroboão I, com capital estabelecida primeiro em Siquém e depois em Samaria.
II. O Contexto do Cisma: O Legado de Salomão e as Tensões Tribais
1. O Governo de Salomão: Esplendor e Opressão
Durante o reinado de Salomão (c. 970–930 a.C.), Israel atingiu seu auge em termos de:
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Infraestrutura (o Templo em Jerusalém, palácios, fortificações).
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Comércio internacional (alianças com Tiro, Egito, Sabá).
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Centralização do poder em Jerusalém.
Contudo, esse esplendor teve um alto custo:
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Altos impostos sobre o povo.
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Serviço forçado (corvéia), especialmente das tribos do norte.
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Favoritismo à tribo de Judá, de onde vinha a casa real.
As tribos do norte, tradicionalmente mais independentes e menos conectadas ao templo em Jerusalém, começaram a sentir-se marginalizadas. Essas tensões estavam prestes a explodir assim que Roboão subiu ao trono.
III. A Ascensão de Roboão e a Revolta das Tribos do Norte
1. Roboão em Siquém
O início do reinado de Roboão é narrado em 1 Reis 12 e 2 Crônicas 10. As tribos do norte convocam Roboão para Siquém, tradicional centro tribal, onde ele deveria ser coroado como sucessor de Salomão — mas com uma condição:
“Teu pai fez duro o nosso jugo; agora, pois, alivia tu o duro serviço de teu pai e o pesado jugo que ele nos impôs, e te serviremos.” (1 Rs 12:4)
Eles exigiam alívio fiscal e político.
2. O Conselho de Roboão: Entre a Prudência e a Arrogância
Roboão consulta dois grupos de conselheiros:
- Os anciãos, que sugerem que ele seja servo do povo e reduza o fardo.
- Os jovens, que aconselham autoridade dura: “Meu dedo mínimo é mais grosso que os lombos de meu pai.”
Roboão escolhe o segundo conselho, dizendo:
“Meu pai vos castigou com açoites, eu porém vos castigarei com escorpiões.” (1 Rs 12:14)
Essa resposta desencadeia a revolta imediata das tribos do norte.
IV. A Divisão do Reino: Israel ao Norte, Judá ao Sul
1. A Separação Política
As dez tribos do norte proclamam Jeroboão I como rei e formam o Reino de Israel (também chamado de Reino do Norte). Roboão fica com:
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Judá, sua tribo.
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Benjamim, cuja proximidade geográfica e vínculos com Jerusalém facilitaram a lealdade.
2. Jerusalém e Siquém: Capitais Rivalizantes
O mapa mostra claramente a nova configuração:
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Ao sul, Jerusalém como capital de Judá, com o templo e a monarquia davídica.
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Ao norte, Siquém como centro inicial de Jeroboão, que mais tarde se desloca para Tirza e finalmente Samaria.
Essa divisão territorial também significou:
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Rivalidade religiosa: Jeroboão cria santuários em Betel e Dã, com bezerros de ouro, para impedir peregrinações ao Templo em Jerusalém (1 Rs 12:28–29).
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Diferenças políticas e teológicas: Judá mantém a dinastia de Davi e o culto centralizado, enquanto Israel vive instabilidade dinástica e sincretismo religioso.
V. Conflito e Guerra Civil: Roboão Tenta Reunificar à Força
1. O Envio de Adorão
Após a secessão, Roboão envia Adorão, responsável pelos tributos, para negociar. Ele é apedrejado pelas tribos do norte, mostrando que a separação era definitiva e irreversível.
2. Preparativos para a Guerra
Roboão reúne 180 mil soldados para atacar Israel e reunificar o reino (2 Cr 11:1–4). No entanto, o profeta Semaías intervém com uma palavra do Senhor:
“Não subireis, nem lutareis contra vossos irmãos... Cada um volte para sua casa, porque eu é que fiz isto.” (2 Cr 11:4)
Roboão desiste do ataque e aceita a divisão como parte da vontade divina — algo que o mapa representa ao separar claramente os dois reinos.
VI. Consequências Históricas da Divisão
1. Fragmentação Nacional
O Reino de Israel nunca mais foi unido. Ao longo dos séculos seguintes, os dois reinos seguiriam caminhos diferentes:
- Judá manteria uma linhagem real contínua até o exílio babilônico (586 a.C.).
- Israel viveria instabilidade, idolatria e seria destruído pela Assíria em 722 a.C.
2. Fronteiras e Tensão Constante
O mapa da época de Roboão indica zonas de conflito:
- As cidades fronteiriças como Betel, Ramá, Mispá, Laquis e Azeca se tornaram fortalezas estratégicas.
- Edom, Filístia e Egito exploraram a fraqueza da divisão para atacar.
3. Consequências Religiosas
A separação consolidou duas tradições religiosas distintas:
- Em Judá, o monoteísmo centralizado em Jerusalém se fortaleceu.
- Em Israel, práticas sincréticas e locais se espalharam, frequentemente criticadas pelos profetas (Amós, Oséias, Elias).
VII. O Legado de Roboão: Um Reino Reduzido, mas Duradouro
1. Reinado de Roboão (c. 930–913 a.C.)
Apesar da divisão, Roboão reinou por 17 anos. Ele fortaleceu Judá militarmente, mas enfrentou invasões egípcias (Sisaque saqueou Jerusalém em 925 a.C.) e crises internas.
Segundo 2 Crônicas 12:14, Roboão “fez o que era mal, porque não preparou o seu coração para buscar ao Senhor.”
2. A Dinastia Davídica Continua
Mesmo em declínio, Judá manteve:
- A linhagem de Davi, com Roboão sucedido por seu filho Abias.
- A centralidade de Jerusalém como capital espiritual e política.
Essa continuidade prepararia o cenário para reformas religiosas futuras sob reis como Ezequias e Josias, além de preservar o templo até a invasão babilônica.
VIII. Um Mapa que Marca um Ponto de Não Retorno
O mapa “Israel sob Roboão” não retrata apenas um território: é um registro visual de uma fratura nacional que transformaria o curso da história bíblica. A divisão do reino de Salomão sob o governo de Roboão foi:
- Um ponto de inflexão político, marcando o fim da unidade tribal.
- Um julgamento espiritual, conforme anunciado pelos profetas.
- Um reflexo da tensão entre poder centralizado e autonomia tribal, que ainda ressoa nas narrativas de reis e profetas.
Roboão não apenas herdou um trono — herdou uma crise. Sua resposta imprudente precipitou um cisma que moldaria todo o Antigo Testamento. O mapa nos ajuda a visualizar essa mudança radical e a entender suas profundas implicações.
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