Os Vales de Jerusalém: A Geografia que Moldou a História da Cidade Sagrada
Jerusalém, uma das cidades mais antigas e sagradas do mundo, é marcada por uma geografia singular, cercada e dividida por diversos vales profundos que influenciaram decisivamente sua história, seu desenvolvimento urbano e suas batalhas ao longo dos séculos. Esses vales — naturais e estratégicos — foram fundamentais para a defesa, para a drenagem das águas, para o cultivo e para a delimitação das áreas religiosas e civis da cidade.
Este artigo explora os principais vales ao redor e dentro de Jerusalém, contextualizando-os num mapa histórico, e detalha seus impactos nas narrativas bíblicas, no crescimento da cidade e nas guerras que a marcaram.
Geografia dos Vales de Jerusalém
Jerusalém está situada numa região montanhosa da Judeia, a cerca de 800 metros acima do nível do mar. A topografia é acidentada, com colinas elevadas e profundos vales que circundam a cidade antiga. Os principais vales são:
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Vale do Cedrom (Nahal Kidron): Localizado a leste da Cidade Velha, é um dos vales mais importantes, correndo desde o Monte das Oliveiras até o Sul, onde se junta ao Vale do Hinom. É citado frequentemente na Bíblia como local de sepultamento e eventos proféticos.
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Vale do Hinom (Geena): A sudoeste da Cidade Velha, este vale era infame na antiguidade por práticas pagãs como sacrifícios e queimadas. No Novo Testamento, o “Vale de Hinom” virou símbolo de juízo e condenação (Geena).
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Vale do Tyropoeon: Corre pelo interior da Cidade Velha, separando o Monte do Templo da Colina Ocidental. Serviu como um canal para águas pluviais e lixo, influenciando a ocupação urbana.
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Vale do Tofet: Menos conhecido, mas geograficamente conectado ao Vale do Hinom, também esteve ligado a práticas religiosas antigas.
Importância Histórica e Estratégica dos Vales
Defesa e Fortificação
Os vales funcionaram como barreiras naturais que protegiam Jerusalém de invasores. Por exemplo, o Vale do Cedrom e o Vale do Hinom criavam fossos naturais que dificultavam ataques por leste e sudoeste, protegendo os muros da cidade. As fortificações eram frequentemente construídas com atenção especial para esses desfiladeiros, tornando-os parte do sistema defensivo.
Durante as invasões babilônicas, romanas e outras, esses vales foram usados estrategicamente para cercar a cidade ou tentar penetrar suas defesas.
Aspectos Religiosos e Culturais
O Vale do Cedrom é mencionado em várias passagens bíblicas, como local onde profetas proclamavam juízos e onde o rei David escondeu o Arca da Aliança antes de sua transferência para Jerusalém.
O Vale do Hinom, com sua reputação negativa, foi associado a rituais pagãos de sacrifícios de crianças e posteriormente simbolizou o “inferno” ou lugar de punição eterna nos ensinamentos judaicos e cristãos.
Infraestrutura e Urbanização
O Vale do Tyropoeon, embora estreito, foi vital para o escoamento das águas da chuva, prevenindo inundações na cidade antiga. Seu canal natural foi ampliado e modificado ao longo dos séculos para sustentar o crescimento urbano.
A disposição dos vales influenciou a localização de bairros, templos, mercados e áreas residenciais, moldando o traçado da Jerusalém antiga e atual.
Os Vales nos Mapas Históricos de Jerusalém
Nos mapas arqueológicos e históricos, os vales de Jerusalém aparecem como delimitadores claros das áreas urbanas. Eles ajudaram a definir os limites da Cidade Velha, o posicionamento do Monte do Templo, o local da Fortaleza Antônia e outras construções chave.
Esses mapas mostram como os vales criaram corredores naturais para o trânsito de pessoas e mercadorias, além de áreas de sepultamento e locais simbólicos.
Eventos Históricos Ligados aos Vales de Jerusalém
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Cerco Babilônico (586 a.C.): Durante o cerco de Jerusalém pelos babilônios, os vales foram tanto obstáculos quanto pontos estratégicos para o cerco e a invasão.
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Revolta Judaica contra Roma (66-70 d.C.): Os vales foram palco de batalhas e táticas de resistência, como no sítio do Monte do Templo, com o Vale do Cedrom sendo uma rota usada pelos romanos.
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Era do Segundo Templo: A área ao redor dos vales era usada para rituais, comércio e sepultamento, com os vales participando do desenho ritualístico e urbano da cidade.
O Legado dos Vales Hoje
Atualmente, os vales de Jerusalém são pontos turísticos e arqueológicos, oferecendo aos visitantes uma visão da complexidade histórica e geográfica da cidade. O Vale do Cedrom abriga antigas sepulturas judaicas e é um local de estudos arqueológicos. O Vale do Hinom, transformado em parque, lembra as narrativas bíblicas e culturais.
Os vales de Jerusalém são muito mais do que acidentes geográficos; eles foram determinantes para a história, a defesa, a religião e a vida cotidiana da cidade sagrada. Ao estudar os mapas que os apresentam, entendemos melhor como a cidade cresceu, resistiu a invasões e moldou sua identidade espiritual e cultural.
Esses vales continuam a ser testemunhos vivos da profunda ligação entre geografia e história em Jerusalém, uma cidade que, por sua localização e significado, permanece no centro da atenção mundial há milênios.
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